Tempo
Mas deu-me de novo, já não é a primeira vez que me acontece ter de escrever nesta língua complicada e longa. Não é língua que sirva para grande coisas quando se tem muito dizer e pouco tempo. Não é o caso. Hoje tenho tempo de sobra. Se há coisa que tenho hoje é tempo. Quanto ao resto já não sei.
Vou a caminho de ter uma conversa dura que vai definir até que ponto o meu futuro material está ameaçado. Não consigo ver muito mais longe que o dia de amanhã neste particular. O engraçado é que estou cheio de medo e não me importo um chavo. No meio desta tempestade ainda fui arranjar umas quantas mais. O deixar de fumar também não está a ajudar em nada.
E para ser completamente honesto esta confusão com as coisas materiais é uma consequência. Como tal nem sei se devia ser chamada de confusão ou de capitulo na saga. A saga tem sido a minha relação de imensos anos com a minha ex-mulher. Nem sei bem quantos. Só quero é esquecer. Pode ser que um dia consiga voltar a este volume com mais distância e olhar de novo para ele. Agora é muito cedo.
De certa forma foi o final da saga que motivou este blog. Eu precisava de um sítio para tirar coisas do peito. O inglês também veio a calhar. Era a forma de manter as coisas públicas sem serem conhecidas de quem poderia ser directamente afectado por elas. Eu precisava de ser discreto nas intenções. Tinha tudo em jogo, a minha vida e a da minha filha. O resto não me interessava por demais.
Posso dar como uma imensa sorte ter tido experiências que me fizeram entender sem margem para dúvidas o que era realmente importante para mim nessa fase da minha vida. Uma das coisas engraçadas neste processo todo foi o que eu acabei a aprender sobre mim, os outros e o que me rodeia. Aprender não é engraçado, é normal, o engraçado é que no fim acabo a ser capaz de arriscar o que nunca fui capaz e que nunca queria ser capaz de arriscar. Depois ser processado por uma máquina de lavar com centrifugação no máximo, estou a preparar-me para outra viagem com destino ainda mais incerto. Engraçado é que se não tinha dúvidas no início o que era importante para mim, agora elas são diferentes, se no início lutava por manter a sanidade e parecia normal para quem olhava de fora, agora, para quem olha de fora para dentro, pareço completamente fora de mim, a por tudo em causa por nada em concreto.
É irónico, sempre optei pela posição mais conservadora, mais certinha. Sempre procurei ser consensual, sem nunca o conseguir ser. Eu que sou assim, que continuo a ser assim, depois de poder ter ficado confinado a um terror do incerto e pouco claro, acabo a tomar decisões com um prazo de validade de horas, a mandar tudo às malvas e estar confortável com isso. E mais absurdo, a conseguir que me entendam, aos poucos e devagar, mas a entender as opções muito pouco conservadoras e ilógicas que tenho vindo a tomar.
Não posso dizer que esteja assim tão confortável que não tenha os meus momentos. Eles andam a rondar e a solidão é má conselheira. Mas enquanto for tendo um novo dia de manhã, e algumas noites, não me importo. Posso ter medo, mas sei onde está o demónio, o que ele quer e como, portanto é só aplicar a máxima de que quem se conhecer a si e ao inimigo não deve temer o resultado de 100 batalhas.
Não é o medo do desconhecido que me afecta, é o medo do que poderá acontecer. Não vão ser coisas boas. Mas vai valer a pena com uma condição. É esse o maior risco, é essa a condição que eu não controlo, é esse acto de fé que eu não devia ter tomado como meu e que abracei, que nem eu entendo como o fui fazer, que me faz avançar neste caminho.
Deve ser o maior risco de toda a minha vida, não tinha razões nenhumas para ir por este caminho. Muitas pessoas me criticaram e vão continuar a criticar por estas opções, não foram opções sensatas, mas espero um dia poder mostrar que realmente estavam enganados, que deviam ter feito o que eu fiz, contra toda a razão, contra toda a lógica confiar, acreditar.
A vida não nos costuma dar muitas segundas oportunidades, eu até devo ter estragado algumas pelo caminho. Não ia perder esta.
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